Infância
José Serra é filho único de Francesco Serra e Serafina Chirico Serra, já falecidos. O parto foi na casa da avó, em São Paulo, na Mooca. O bairro operário era, na época, endereço de nordestinos e imigrantes italianos e espanhóis pobres, que vinham tentar a vida no Brasil.
“Meu avô Steffano era analfabeto. Sustentou a família com uma banca de frutas no mercado municipal da Cantareira e com uma carroça puxada por um burrinho. Meu pai só aprendeu a ler quando fez o serviço militar. Também ganhou a vida vendendo frutas no mercado público”.
Serra nasceu numa quinta-feira, 19 de março de 1942, ano em que o Brasil entrou na Segunda Guerra Mundial. Tempos difíceis para quem tinha parentes do outro lado do mundo, como a família Serra.
“Era proibido escutar transmissões de países ‘inimigos’, de modo que meu pai ouvia o rádio no escuro. Outra lembrança era a foto de um tio, com pinta de mocinho de cinema: com lágrimas nos olhos meu pai repetia sempre que ele estava preso desde o começo da guerra, num campo de concentração. Havia a fila do pão, na madrugada fria, sob a garoa. Como não tinha quem ficasse comigo em casa, meus pais me levavam semidormindo, na escuridão.”
O menino Zé teve uma infância sem luxos, na casa de vila, alugada pelos pais. “Eram casinhas do começo do século, feitas pelas indústrias para abrigar famílias de operários da região, com uma sala e um quarto, cozinha pequena, onde ficava um fogão de alvenaria a carvão. No fundo do quintal havia um banheiro, desses onde a água do chuveiro elétrico escorre junto ao vaso sanitário”.
Lá ele cresceu, ouvindo música sertaneja no Mercado Municipal – onde o pai trabalhava – e muito forró nas cantorias dos vizinhos. Gostava de futebol de botão e lia de tudo: gibis, os volumes que o Clube do Livro entregava todo mês e a revista Seleções.
“Não havia livros em casa nem dinheiro para cursos de idiomas ou de música. A vó Carmela me garantia um luxo: doces, sorvetes e guaraná aos domingos. Bicicleta, ganhei quando tinha 11 anos. Não tínhamos toca-discos, fogão a gás, geladeira elétrica nem televisão – o primeiro aparelho em casa chegou quando eu tinha uns 14 anos.”
Serra passava bastante tempo com a avó, que falava “portunhol”, e com as tias, de sotaque italiano carregado. A mãe, de saúde muito frágil, vivia de cama.
Na volta da escola, o menino fazia companhia a D. Serafina, lendo seus romances preferidos.
Nessa época, começou a paixão pelo cinema, incentivada pela tia Antonieta: era ela quem contava, em detalhes, o enredo de cada filme que assistia.
A paixão pelo futebol ele herdou do pai, que levava o menino Zé para assistir aos jogos do Palmeiras no estádio do Pacaembu.
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